domingo, 30 de maio de 2010

O Gato Por Dentro

Eu não gosto de gatos, mas adoro Burroughs. Teria sido bem melhor se fosse com cachorrinhos que, por sinal, Burroughs não gosta.
O livro são anotações curtíssimas sobre o convívio do autor com gatos e as reflexões feitas a partir daí. Algumas você consegue enxergar além dos gatos, os gatos passam a ser meros personagens de uma mensagem maior. E, para mim, é aí que se encontra a genialidade do livro.
Ta, talvez o livro esteja longe de ser genial, mas eu sou suspeita para falar, pois como eu disse, gosto do autor. Mas acho a leitura válida: é rápida, boa e realmente dá pra tirar algum proveito do livro.

“[...] O ambiente mágico está sendo intimidado a desaparecer. Não há mais rena verde no Forest Park. Os anjos estão deixando todas as alcovas no mundo inteiro, o ambiente no qual unicórnios, pés-grandes e renas verdes existem está cada vez mais ameaçado, como as florestas tropicais e as criaturas que nela vivem e respiram. Quando as florestas são derrubadas para dar lugar a motéis, Hiltons e McDonald’s, morre também toda a magia do universo.”
William Burroughs – O Gato Por Dentro – Página 26

terça-feira, 25 de maio de 2010

O Escaravelho do Diabo

Eu adoro livros infanto-juvenis. Melhor, eu adoro livros infanto-juvenis quando são bons. E alguns são realmente bons que eu até fico pensando em como ficaria numa versão adulta.
Eu acabei de ler O Escaravelho do Diabo e infelizmente não é muito legal. A ideia do livro é boa: um misterioso assassino que manda besouros para suas vítimas, todas de cabelo vermelho e pele sardenta, antes de matá-las; porém a escritora não é das melhores.
O grande problema do livro é que é tudo muito rápido. A história mal começa e já se foram dois meses e depois mais dois e quando se viu já se passaram cinco anos e não aconteceu realmente nada. Por exemplo, depois que o primeiro ruivo é assassinado não acontece nada significativo até a morte do segundo, dois meses depois, e assim até morrerem todos. Nem quando uma das vítimas sobrevive, a autora consegue desenvolver a história de verdade. “A Rachel sobreviveu, ficou traumatizada e está indo viajar. Tchau”.
E como todo livro tem a historinha de amor secundária que, por incrível que pareça, consegue ser ainda mais veloz do que a história principal. O protagonista se apaixona, começa a namorar, os dois tem a primeira briga porque o gênio dela é difícil. Mas eu me pergunto, quando os dois começaram a namorar? Melhor, quando os dois começaram a se falar pra se apaixonar? E como diabos é o gênio da infeliz para eles brigarem? É, tudo pergunta sem respostas.
Mas se alguém ler e conseguir captar o que acontece nas entrelinhas dessa velocidade toda, eu ficaria mais do que feliz se pudessem dividir comigo e esclarecer o mistério.
E só para constar, não fiquem preocupados achando que o livro é tão rápido que o assassino não será descoberto. Ele será. Cinco anos depois de uma maneira completamente... tosca.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Três em um

Tive uma overdose literária. Em menos de 24 horas li Fernando Sabino – A Mulher do Vizinho, William Shakespeare – Romeu e Julieta e Bocage – Sonetos. E o melhor ainda, paguei R$ 2,00 nestes três livros juntos. Mas enfim...
Foi a segunda vez que li Romeu e Julieta e não adianta. Não consigo gostar. Nem levando em conta que é um escrito de outra época e todo aquele bla bla bla. O livro é chato. Ponto. Não consigo achar romântico e lindo. E na cena da sacada da Julieta, não posso deixar de imaginar que seria infinitamente melhor se caísse um meteoro em Verona e matasse os dois naquele momento, poupando o leitor de toda aquela chatice do diálogo dos dois.
Em compensação eu gostei bastante de “A Mulher do Vizinho”. É um livro rápido e gostoso de ler. Com pequenos contos, com pitadas de humor, que narram episódios aleatórios.
Não costumava gostar de contos, mas ultimamente tenho lido bastante coisa do gênero e tenho gostado do que tenho encontrado.
O legal do livro de Fernando Sabino é que mesmo sendo bem antigo, tem algumas situações que você se identifica a acaba achando interessante. O escritor narra o cotidiano, pequenos acontecimentos triviais, que poderiam acontecer com qualquer um e por isso você acaba enxergando um pouco da sua vida ali.
Sonetos do Bocage e A Mulher do Vizinho são dois livros bons e que recomendo. Se aparecer a oportunidade, leia ambos. Mas Romeu e Julieta, não. Sua vida não vai ser pior e nem você vai ser mais ignorante por não conhecer uma das mais famosas obras de Shakespeare.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Charles Bukowski

O que falar de Charles Bukowski? O cara é bom. Tem que ser muito bom pra escrever sobre escrever e ainda fazer sucesso.
Terminei agora de ler “O Capitão Saiu Para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio” e indo contra todas as minhas expectativas, eu achei o livro genial.
Este livro são trechos de seu diário escrito entre 1991 e pouco antes de morrer. E, como diz na sinopse do livro: “Dramático, na medida em que mostra a aproximação do fim. (...) É, também, puro Bukowski: seco, cético, maldito e maravilhosamente bem escrito”. Acho que isso resume o livro perfeitamente.
Nunca vi alguém tão negativo quanto Bukowski, em nenhum livro o cara consegue passar uma mensagem de otimismo e, em O Capitão, esse pessimismo está ainda mais acentuado.
Todos os livros de Bukowski são a mesma coisa: sua vida de escritor, seus empregos medíocres, sua bebedeira e as mulheres. E só para constar, eu acho Bukowski, como pessoa, nojento.
Quando li Misto Quente pela primeira vez, há alguns anos, não gostei. Reli este ano, conhecendo outras obras do autor e continuei não gostando. Acho o livro exagerado demais. Têm várias partes que são completamente desnecessárias e o Henri Chinaski está completamente nojento.
Em seguida, li Pulp e adorei. Bem escrito, com as sacadas típicas de Bukowski e com a passagem mais genial que já vi: “Qual seu segredo para viver tanto? Eu nunca acordo antes do meio dia.”
Aí veio Hollywood, Delírios Cotidianos, Factótum, Numa Fria e agora O Capitão Saiu Para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio. Recomendo todos.
Mas devo salientar, mais uma vez, uma coisa importante deste último que eu li: o drama. Em todas as suas páginas, apesar de falar absolutamente sobre nada, Bukowski carrega suas frases de um drama incrível. Drama este, que já faz valer toda a leitura do livro.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ela e Outras Mulheres

Tenho alguns livros do autor em casa, mas ainda não tive oportunidade de lê-los, portanto Ela e Outras Mulheres foi o primeiro que li de Rubem Fonseca. Não digo que me decepcionei, afinal não conheço o estilo, mas posso dizer que esperava mais.
Vi várias opiniões sobre este livro. Alguns dizem que por ser Rubem Fonseca já vale a leitura – o que para mim não é suficiente, afinal todo autor tem o direito de não escrever obras tão boas. Outros dizem que é a pior obra dele. Não sei. Só sei que eu gostei. Não, gostar não é a palavra certa. Achei o livro razoável. Alguns contos são bons e outros são ruins. É uma leitura muito rápida porque os contos são bem pequenos e fáceis.
O conto “Luíza”, por exemplo, achei excelente. Gostei da maneira como o autor levou a história e gostei bastante do final.
“Alice”, o conto que abre o livro, é a história de uma professora que abusa de seu aluno, mas não é “descoberta” porque o machismo do pai a protege. “Como um menino de 14 anos pode ser prejudicado fazendo sexo com a professora?”. O pior de tudo é que é bem assim que acontece.
É um livro forte em sua essência, mas fraco em seu conteúdo e abordagem. O bom é que o livro é direto. O ruim é que os personagens acabam sendo grotescos e algumas falhas humanas graves foram banalizadas pelo autor.
Concluindo: se tiverem oportunidade, leiam. Mas não se encham de expectativas por ser Rubem Fonseca. O bom é sempre esperar pouco, pois se for ótimo, vai ultrapassar as expectativas e se for horrível, pelo menos não haverá decepção.

Idiocracy

Uma sociedade completamente emburrecida e alienada não é algo que soa apenas como “historinha de filme”.
Idiocracy conta a história de um cara normal que após uma experiência de hibernação humana, acorda no ano de 2505, rodeado de pessoas estúpidas e ele passa a ser o cara mais inteligente do planeta.
A ideia do filme é ótima, pena que não foi aproveitada direito. O filme é bobo, mas dá para dar algumas risadas.
Com o tema de alienação coletiva, dava para ter feito um baita filme com uma baita crítica e uma baita história. Mas, infelizmente, o diretor não soube explorar o assunto direito e acabou virando uma comedinha água com açúcar.
Após assistir o filme, dá para parar e pensar que, tirando alguns exageros, é um futuro possível. A população está se tornando cada vez mais escrava da mídia e cada vez mais vítima da comercialização. Estamos criando pessoas alienadas e passivas, que aceitam tudo que lhes é passado, sem nenhum tipo de questionamento.
Hoje em dia, as pessoas se preocupam com muitas coisas: Big Brother, o último capítulo da novela das 8, quem o Dunga convocou ou deixou de convocar para jogar na Copa – já perceberam como em época de Copa do Mundo todo mundo adora futebol e é super patriótico? Alguém se preocupa em estudar história e política e entender porque o país está como está? A grande maioria não. Cadê o patriotismo nesta hora? História é chato. Política é chato. Legal é saber quem é a próxima “gostosa” que vai estar na capa da Playboy. Legal é discutir se a Luciana (?) vai voltar ou não a andar em Viver a Vida. Ler coisas/livros interessantes é chato. Assistir filmes interessantes é chato. Tudo que é realmente bom não desperta o interesse do grande público. Diante disto, eu me pergunto: será tão impossível assim que daqui alguns anos, nossos netos estejam assistindo filmes de bundas e achando geniais? Infelizmente, eu acho que não.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Garota das Laranjas

“Qual seria a sua decisão se você tivesse a possibilidade de escolher? Optaria por uma vida breve aqui na Terra, para depois de poucos anos separar-se de tudo e nunca mais voltar? Ou diria "não, obrigado"?”
Esta é a pergunta que Jostein Gaarder nos deixa ao terminar a leitura deste livro. Mais uma obra excelente do autor, mas não tão boa quanto O Dia do Curinga, e melhor que O Mundo de Sofia com seu final confuso.
A Garota das Laranjas é a história de um garoto de 15 anos que recebeu uma carta póstuma do pai falecido há 11 anos. Nesta carta, o pai conta a sua história com a Garota das Laranjas. Uma história carregada de significados e mensagens filosóficas, como é característica de Gaarder.
O autor reflete sobre nossa existência como parte de um universo imenso e qual o significado disso tudo.
Toda a mensagem do livro é passada através de uma história de amor. Linda, diga-se de passagem. “Aguento esperar até que meu coração comece a sangrar de aflição.” Clichê. Mas mesmo assim, eu adorei.
Gosto das obras de Jostein Gaarder e gostei desta também. É um livro rápido, com conteúdo e sem ser cansativo. Porém, considero que esta receita de “pai que se comunica com filho depois da morte” está se tornando um pouco lugar-comum. Mas deu certo no livro.
A obra não é extraordinária, mas é boa. E dá pra terminar a leitura sabendo que ainda existem livros que não são uma afronta à nossa inteligência e ao nosso intelecto.

domingo, 2 de maio de 2010

O Clube do Filme

Acho que o livro cumpriu o que foi proposto: contar a história de Jesse. Mas não consigo deixar de imaginar que seria um livro infinitamente melhor se focasse no Clube do Filme e não na vida do personagem. Minha expectativa era que fosse mais informativo mesmo.
Ao terminar a leitura, não pude deixar de sentir que o autor ficou achando que escreveu um baita livro e de que ele era realmente um excelente pai.
O livro está longe de ser extraordinário, muito pelo contrário. É uma obra comum, rápida e bem escrita. Mas é uma leitura para uma vez só. Para se deixar na estante e nunca mais lembrar que ela foi lida.
David Gilmour, para mim, está longe também de ser um bom pai. Era um pai presente, mas só. 95% das crianças e adolescentes não gostam da escola. Fato. Se formos tirar das escolas todos os jovens que se sentem entediados e não entendem a importância de estudar, teríamos colégios vazios. E realmente, educar uma criança mostrando filmes é uma ideia genial. No caso do livro, felizmente, no final, acabou dando certo. Mas aposto que em 90% dos casos, tirar um adolescente da escola e deixá-lo fazer o que quiser, sem responsabilidade alguma, não daria boa coisa.
Sem contar, na parte mais absurda de todas:
- Se eu descobrir que você está metido com drogas, nosso trato está desfeito.
Um tempo depois...
- Pai, eu usei cocaína ontem.
- Você se esqueceu do nosso trato?
- O trato era que se você me pegasse usando drogas, estaria tudo acabado, mas sou eu quem está contando...
E o pai aceitou sem problemas. E eu achando que meus pais eram bananas...