segunda-feira, 30 de abril de 2012

[Entrevista] Eduardo Sabino


Eduardo Sabino, mineiro, formado em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas, atualmente trabalha como escritor e jornalista e é autor do livro “Ideias Noturnas: sobre a grandeza dos dias”, da Editora Novo Século. Devorador de livros desde muito cedo, Eduardo falou por e-mail com o Precisamos Falar Sobre Livros e contou sobre sua paixão pela literatura, a publicação de seu primeiro livro e a dificuldade de ser autor no Brasil. Eduardo completa: “para viver com alguma dignidade, presto serviços na área de comunicação. Dedico-me à literatura nas horas vagas”. Confira abaixo a conversa:

Precisamos Falar Sobre Livros – O jornalismo te levou a ser escritor ou ser escritor te levou ao jornalismo? Por quê?
Eduardo Sabino - O interesse pela literatura veio antes. São mundos muito diferentes, o da literatura e o do jornalismo. Não escolhi uma coisa por gostar da outra. Foi um conjunto de circunstâncias, havia desistido de um curso técnico de Química e consegui uma bolsa. Claro, uma vez estudante de Comunicação, eu me beneficiei, em algum momento, das leituras literárias. É preciso ter alguma carga de leitura, seja de revistas em quadrinhos ou manuais de instrução, para articular uma frase. 

PFSL – Como nasceu sua paixão pela literatura?
ES Veio cedo. Quando criança e adolescente, li muitos livros de literatura infantojuvenil. É difícil de lembrar exatamente como ou por que nasceu o interesse. Na minha infância não vivi numa casa cheia de livros, pelo contrário, mas meu pai era um bom contador de histórias. Ele fazia isso para entreter-nos (eu e o meu irmão). Quando descobri que os livros da biblioteca da minha escola tinham os contos narrados por ele e muitos outros, comecei a levá-los para casa. Pedia a todo ser alfabetizado que encontrava pelo caminho para ler as histórias para mim: meus pais, minha avó, os vizinhos. Pelo meu interesse ou pela chateação, minha mãe não aguentou esperar o período de alfabetização da escola e me ensinou a ler. A partir de então, não parei. 

PFSL – Há algum escritor que sirva de inspiração?
ESAdmiro muitos autores, mas não sei até onde vai a influência deles no que faço. Não acho que exista um autor específico que aponte a direção ou sopre palavras a um escritor, salvo nos casos de imitação. Para mim, o autor cria em cima da memória, mas de uma memória diversa. No meu caso, a minha base deve ser formada essencialmente de leituras, filmes e experiências pessoais.

PFSL – Fale-me sobre o Ideias Noturnas. De onde veio a ideia? Quanto tempo levou para escrevê-lo? A dificuldade (ou não) para publicá-lo.
ES São contos criados entre 2006 e 2009. Alguns vieram de períodos anteriores, mas foram remodelados. Os textos buscam explorar situações inusitadas, com algum apego ao elemento fantástico, para criar histórias sobre o tempo, os relacionamentos, as pequenas mortes e paranoias da vida humana. Publicar, na verdade, não é tão difícil, o difícil é publicar em boas editoras, ter uma boa distribuição e não colocar a mão no bolso. 

PFSL – Qual o feedback que você recebeu do Ideias Noturnas?
ES Foi um bom começo. Conheci muitas pessoas, algumas interessadas no livro, outras na repercussão dele, mas algumas que me apontaram caminhos interessantes e me ajudaram a amadurecer o meu projeto literário. Aprendi, especialmente, a ter paciência, a valorizar mais a experiência de criação literária do que a da publicação. Sobre repercussão, o livro teve alguns desdobramentos interessantes, um deles está por vir. O conto de abertura terá uma versão cinematográfica em breve, adaptado por uma produtora de Belo Horizonte. 

PFSL – Quais as principais dificuldades que um escritor iniciante enfrenta?
ES Muitas. Especialmente no Brasil, os leitores são raros, já são poucos para o autor consagrado. Mas tenho a impressão que, para quem tem realmente a necessidade de escrever, as portas fechadas do mercado são um detalhe. A dificuldade maior está na guerra contra si mesmo: se aceitar e se fazer escritor, definir direções, buscar um estilo, ser fiel a si mesmo, seja lá o que signifique isso. Para o escritor que não está satisfeito em repetir fórmulas de best-sellers, a batalha é para buscar uma voz própria, reconhecível, e fazer algo que valha a pena ser lido, não importa por quantos.

PFSL – Estar fora do eixo Rio-São Paulo gera alguma dificuldade especial na sua carreira?
ES Os holofotes estão no Rio e em SP, claro, mas, como disse, não acho que isso seja o principal empecilho para um autor.

PFSL – Alguma dica para quem sonha em publicar um livro?
ES Deixar de ver isso como um sonho, mas como a conseqüência de um trabalho dedicado de escrita, um ofício real e estimulante por si mesmo. Claro, ler bastante deve ser o único conselho possível. Um leitor compulsivo não se tornará necessariamente um escritor, mas o escritor é obrigatoriamente um leitor dedicado. E é preciso ler para além das resenhas, para além das vitrines e dos Best Sellers. 

PFSL –Como é ser escritor/ter um livro em um país que a leitura não é valorizada?
ES Não há autor que não queira ter muitos leitores. Mas a necessidade de escrever é coisa mais complexa. Poucos leitores bastam. É como o náufrago de Tom Hanks, que se mantém vivo dialogando com uma bola de vôlei. Um escritor incurável escreve até para os fantasmas. É mais necessidade do que vaidade, o prazer está mais no ato de criar do que no de provocar leituras. Não que o segundo não seja gratificante, mas o peso é menor.   

PFSL – O que pensa da relação internet X livros/ebooks?
ES É uma discussão sobre suportes. Penso que a preocupação deveria ser a de manter a literatura viva, não a de discutir qual o melhor suporte ou se um anulará o outro. Se o livro vier a morrer, o que não acredito, será assassinado pelos não leitores, não por alguma nova tecnologia. Quem gosta de ler literatura, continuará a ler independente da forma: vai ler na parede, no papel, no computador, onde for possível. Também não acho que o livro de papel está com os dias contados. A seita de admiradores da literatura ainda valoriza muito o livro físico, as capas, o projeto gráfico. Não se mata um fetiche da noite para o dia.  

PFSL – O que é a internet para você?
ES Um meio interessante para o trabalho intelectual, o artístico, o profissional. Como todos os grandes empreendimentos da humanidade, também é um meio repleto de ameaças à segurança e à liberdade das pessoas. Também vem se tornando um espaço de convivência, que não deve, nunca, substituir um boteco.  

PFSL – Gostaria de acrescentar alguma coisa?
ESNão, obrigado pelo espaço.

O blog agradece a participação de Eduardo. Esperamos que vocês, leitores, consigam extrair o melhor do que o autor dividiu conosco. Para conhecer mais sobre Eduardo Sabino e seu trabalho, acesse o site do autor.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Trono de Fogo


Sabe quando você está lendo um livro, mas consegue arrumar qualquer desculpa ou qualquer coisa muito mais interessante para fazer para não precisar sentar e lê-lo? Então, é justamente esta a sensação ao ler O Trono de Fogo.
Quando li A Pirâmide Vermelha já não tinha ido muito com a cara do livro. Mas eu tenho um problema sério: por pior que seja, sempre que começo alguma coisa, eu preciso terminá-la (tanto que só abandonei dois livros na vida que realmente não tinham condição de continuar: Melancia e A Bruxa de Portobelo).
A história do livro em si é bem bacana. Traz mitologia egípcia em um enredo bem elaborado, que não perde o fôlego e que agrega um conhecimento sobre os deuses antigos que também vale a pena. Qual o problema então? Lembram quando falei AQUI que o Rick Riordan criou um estilo de escrita bem humorado? Em O Trono de Fogo parece que o autor realmente se descontrolou e que não achava que o capítulo valeria a pena se não tivesse pelo menos meia dúzia de piadas engraçadonas por página.
Tudo que é demais cansa. E as piadas desnecessárias, fora de hora e que não são engraçadas, te irritam de uma maneira no decorrer das páginas, que antes da metade do livro você tem vontade de rasgar o livro e trucidar qualquer um que venha fazer gracinha com você.
Eu entendo a intenção do autor de querer mostrar que o bom humor é vital em qualquer situação e ajuda a enfrentar os problemas mais difíceis, de uma maneira mais leve e descontraída. Entretanto tudo tem limite e tem hora que não é para fazer piada. Ponto.
Têm tantos livros bons por aí que eu acho que você pode realmente passar a vida sem conhecer A Pirâmide Vermelha e O Trono de Fogo. Mesmo que você seja fã de Rick Riordan pela saga Percy Jackson, busque outros livros do autor, como a série dos Heróis do Olimpo, ou as obras adultas do mesmo (que eu ainda não conheço!). Tenho certeza que você vai encontrar outros livros bem melhores por aí.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

As Gárgulas



Livros de vários contos de Ana Guimaraens, agrupados em temas, entretanto todos são independentes.
A leitura é fácil, rápida e de certa maneira, bastante agradável. São menos de 100 páginas que podem ser devoradas em pouco mais de uma hora – talvez até menos.
Alguns contos merecem destaque, como O Pangaré e A Viagem e outros nem deviam contar no livro, como Desejos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Almanaque da TV


É complicado voce pegar para ler um livro intitulado “Almanaque da TV” e se deparar com um “Almanaque da TV Globo com algumas histórias de outras emissoras inclusas”. 
Os autores, por ainda trabalharem na TV Globo, resolveram fazer um resumão do que foi a história da rede até mais ou menos 2005. Claro que é impossível não mencionar outras emissoras e determinados programas, mas fica evidente que os autores querem simplesmente citá-las por obrigação. 
Há o exemplo da TV Excelsior, que apesar dos poucos anos de duração, foi de uma importância ímpar para a história da televisão e praticamente criou o modelo de programação adotado até hoje pela Globo, mas que aparece pouquíssimas vezes no decorrer do livro.
A TV Record, bem mais antiga que a sua concorrente, aparece menos ainda. É possível, quem sabe, encher os dedos de uma mão com a quantidade de aparições da emissora na obra.
O SBT ainda aparece um pouco. Talvez tenha sido impossível negar Silvio Santos, um dos homens mais importantes da história da televisão brasileira. Entretanto, o programa Chaves que foi – e ainda é – um dos programas mais assistidos da televisão, não mereceu nem uma nota de rodapé.
Algumas curiosidades interessantes são contadas no livro de quando se começou a fazer TV no Brasil que não se tinha a menor noção de nada. E também de outros países. Um caso bacana que me chamou a atenção foi sobre os mitos da influência de assistir televisão: na Inglaterra, dizia-se que a exposição excessiva à televisão diminua o consumo de Fish & Chips e ainda dava cáries.
Mas apesar de ser um livro completamente parcial sobre a história e as curiosidades da televisão, é uma leitura bacana e extremamente válida para quem curte o assunto ou simplesmente se interessa pela história dos veículos de comunicação. Só é aconselhável manter na cabeça que é um livro mais popular e de linguagem fácil sobre a história da Rede Globo.
Porém, eu sou da opinião de que a partir do momento que se decide escrever sobre a televisão no geral, gostos e preferências devem ser deixados de lado e também o medo de não agradar os patrões por citar em demasiado a TV Tupi ou Excelsior ou qualquer outra. Não estou negando a importância da Globo para a história da televisão brasileira – muito pelo contrário – a Globo é um exemplo de técnica e qualidade de dar inveja (apesar de ter outros inúmeros defeitos), mas ela só surgiu em 1965, a TV já existia há 15 anos no país. Cadê a história destes 15 anos e de como foi difícil aprender a fazer televisão?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Melhor Saga Juvenil


Atenção: esta resenha contém spoilers. Caso não queira saber partes importantes da história, não continue a leitura.



Não sei se é porque cresci lendo Hary Potter, mas considero um dos melhores livros que tem e talvez a melhor saga adolescente que eu já li.
A primeira vez que tive contato com um livro da série, no ano 2000, eu tinha 12 anos. Imagine uma criança de 12 anos lendo sobre Hogwarts, trouxas, Voldemort etc. etc. etc.? Foi simplesmente fantástico. Foram sete anos vivendo a expectativa sobre o que iria realmente acontecer com a série, quem iria morrer, quem sobreviveria. Teorias e mais teorias. Em 2007 quando o último livro foi lançado, eu já estava na faculdade e Harry Potter há muito tinha deixado de ser um livro bobo que encantou a criança de 12 anos. Lembro-me que após o lançamento oficial, saíram na internet traduções livres dos fãs e que devorei Relíquias da Morte em uma madrugada de tão ansiosa que estava para ver o final.
Desde então, pelo menos uma vez por ano, releio todos os livros da série. Adoro releituras. São ótimas para enxergarmos novos pontos de vistas e detalhes que passaram despercebidos na primeira vez. Enfim...
O que gosto bastante em Harry Potter é a maneira como a série amadurece junto com o personagem e com os fãs. JK Rowling amadurece sua escrita ao longo do crescimento de Harry. O livro “bobinho e infantil” de A Pedra Filosofal não se compara com a história e a escrita adulta de As Relíquias da Morte. Aliás, a partir de O Cálice de Fogo que é quando Voldemort renasce, Harry Potter já não é mais um livro infantil. Há mortes, torturas e decepções bastante pesadas.
Outro ponto que me surpreende bastante: as pessoas que JK Rowling mata durante a série. São pessoas que você jamais veria morrer em um livro de final feliz comum. Mas, com certeza, seriam as pessoas que morreriam de verdade. A morte de Sirius Black e Dumbledore me fizeram chorar litros. Mas no último livro, quando mata Edwiges, Dobby, Lupin, Fred Weasley etc., eram pessoas que jamais esperaríamos e que após ler, fica aquele choque de “WTF, JK? Sério que você fez isso?”. Mas apesar do choque, é aí que você percebe o quanto a autora sabe o que está fazendo.
A história vai se encaixando. JK consegue amarrar as passagens de maneira primorosa. Alguns detalhes passam? Sempre. Mas é ótimo ver algo que você não deu tanta importância no primeiro livro sendo explicado lá no último. Ou alguém que ela simplesmente mencionou uma vez no quinto livro sendo uma peça-chave no livro final.
Sem contar os personagens: são humanos. Possuem um quê de heroísmo necessário para vender livros, mas são chatos e escrotos, nem um pouco perfeitos e sem defeitos. O Harry, por exemplo, principalmente em Relíquias da Morte, é uma das pessoas mais intragáveis do mundo, mas sem perder a essência.
Harry Potter é uma combinação que deu certo. Bons personagens, boa história e boa narrativa são fatores que transformaram a série em uma das mais lidas do mundo e JK na mulher mais rica da literatura.
A saga merece ser lida por pessoas de todas as idades. Tem ensinamentos que podem ser levados pra vida e mais importante ainda: mostra que o mundo não é cor de rosa, que “o que tiver que será e que temos que estar prontos para enfrentar”.