Eduardo Sabino, mineiro, formado em Comunicação Social – Habilitação em Relações Públicas, atualmente trabalha como escritor e jornalista e é autor do livro “Ideias Noturnas: sobre a grandeza dos dias”, da Editora Novo Século. Devorador de livros desde muito cedo, Eduardo falou por e-mail com o Precisamos Falar Sobre Livros e contou sobre sua paixão pela literatura, a publicação de seu primeiro livro e a dificuldade de ser autor no Brasil. Eduardo completa: “para viver com alguma dignidade, presto serviços na área de comunicação. Dedico-me à literatura nas horas vagas”. Confira abaixo a conversa:
Precisamos Falar Sobre Livros – O jornalismo te levou a ser escritor ou ser escritor te levou ao jornalismo? Por quê?
Eduardo Sabino - O interesse pela literatura veio antes. São mundos muito diferentes, o da literatura e o do jornalismo. Não escolhi uma coisa por gostar da outra. Foi um conjunto de circunstâncias, havia desistido de um curso técnico de Química e consegui uma bolsa. Claro, uma vez estudante de Comunicação, eu me beneficiei, em algum momento, das leituras literárias. É preciso ter alguma carga de leitura, seja de revistas em quadrinhos ou manuais de instrução, para articular uma frase.
PFSL – Como nasceu sua paixão pela literatura?
ES – Veio cedo. Quando criança e adolescente, li muitos livros de literatura infantojuvenil. É difícil de lembrar exatamente como ou por que nasceu o interesse. Na minha infância não vivi numa casa cheia de livros, pelo contrário, mas meu pai era um bom contador de histórias. Ele fazia isso para entreter-nos (eu e o meu irmão). Quando descobri que os livros da biblioteca da minha escola tinham os contos narrados por ele e muitos outros, comecei a levá-los para casa. Pedia a todo ser alfabetizado que encontrava pelo caminho para ler as histórias para mim: meus pais, minha avó, os vizinhos. Pelo meu interesse ou pela chateação, minha mãe não aguentou esperar o período de alfabetização da escola e me ensinou a ler. A partir de então, não parei.
PFSL – Há algum escritor que sirva de inspiração?
ES – Admiro muitos autores, mas não sei até onde vai a influência deles no que faço. Não acho que exista um autor específico que aponte a direção ou sopre palavras a um escritor, salvo nos casos de imitação. Para mim, o autor cria em cima da memória, mas de uma memória diversa. No meu caso, a minha base deve ser formada essencialmente de leituras, filmes e experiências pessoais.
PFSL – Fale-me sobre o Ideias Noturnas. De onde veio a ideia? Quanto tempo levou para escrevê-lo? A dificuldade (ou não) para publicá-lo.
ES – São contos criados entre 2006 e 2009. Alguns vieram de períodos anteriores, mas foram remodelados. Os textos buscam explorar situações inusitadas, com algum apego ao elemento fantástico, para criar histórias sobre o tempo, os relacionamentos, as pequenas mortes e paranoias da vida humana. Publicar, na verdade, não é tão difícil, o difícil é publicar em boas editoras, ter uma boa distribuição e não colocar a mão no bolso.
PFSL – Qual o feedback que você recebeu do Ideias Noturnas?
ES – Foi um bom começo. Conheci muitas pessoas, algumas interessadas no livro, outras na repercussão dele, mas algumas que me apontaram caminhos interessantes e me ajudaram a amadurecer o meu projeto literário. Aprendi, especialmente, a ter paciência, a valorizar mais a experiência de criação literária do que a da publicação. Sobre repercussão, o livro teve alguns desdobramentos interessantes, um deles está por vir. O conto de abertura terá uma versão cinematográfica em breve, adaptado por uma produtora de Belo Horizonte.
PFSL – Quais as principais dificuldades que um escritor iniciante enfrenta?
ES – Muitas. Especialmente no Brasil, os leitores são raros, já são poucos para o autor consagrado. Mas tenho a impressão que, para quem tem realmente a necessidade de escrever, as portas fechadas do mercado são um detalhe. A dificuldade maior está na guerra contra si mesmo: se aceitar e se fazer escritor, definir direções, buscar um estilo, ser fiel a si mesmo, seja lá o que signifique isso. Para o escritor que não está satisfeito em repetir fórmulas de best-sellers, a batalha é para buscar uma voz própria, reconhecível, e fazer algo que valha a pena ser lido, não importa por quantos.
PFSL – Estar fora do eixo Rio-São Paulo gera alguma dificuldade especial na sua carreira?
ES – Os holofotes estão no Rio e em SP, claro, mas, como disse, não acho que isso seja o principal empecilho para um autor.
PFSL – Alguma dica para quem sonha em publicar um livro?
ES – Deixar de ver isso como um sonho, mas como a conseqüência de um trabalho dedicado de escrita, um ofício real e estimulante por si mesmo. Claro, ler bastante deve ser o único conselho possível. Um leitor compulsivo não se tornará necessariamente um escritor, mas o escritor é obrigatoriamente um leitor dedicado. E é preciso ler para além das resenhas, para além das vitrines e dos Best Sellers.
PFSL –Como é ser escritor/ter um livro em um país que a leitura não é valorizada?
ES – Não há autor que não queira ter muitos leitores. Mas a necessidade de escrever é coisa mais complexa. Poucos leitores bastam. É como o náufrago de Tom Hanks, que se mantém vivo dialogando com uma bola de vôlei. Um escritor incurável escreve até para os fantasmas. É mais necessidade do que vaidade, o prazer está mais no ato de criar do que no de provocar leituras. Não que o segundo não seja gratificante, mas o peso é menor.
PFSL – O que pensa da relação internet X livros/ebooks?
ES – É uma discussão sobre suportes. Penso que a preocupação deveria ser a de manter a literatura viva, não a de discutir qual o melhor suporte ou se um anulará o outro. Se o livro vier a morrer, o que não acredito, será assassinado pelos não leitores, não por alguma nova tecnologia. Quem gosta de ler literatura, continuará a ler independente da forma: vai ler na parede, no papel, no computador, onde for possível. Também não acho que o livro de papel está com os dias contados. A seita de admiradores da literatura ainda valoriza muito o livro físico, as capas, o projeto gráfico. Não se mata um fetiche da noite para o dia.
PFSL – O que é a internet para você?
ES – Um meio interessante para o trabalho intelectual, o artístico, o profissional. Como todos os grandes empreendimentos da humanidade, também é um meio repleto de ameaças à segurança e à liberdade das pessoas. Também vem se tornando um espaço de convivência, que não deve, nunca, substituir um boteco.
PFSL – Gostaria de acrescentar alguma coisa?
ES – Não, obrigado pelo espaço.
O blog agradece a participação de Eduardo. Esperamos que vocês, leitores, consigam extrair o melhor do que o autor dividiu conosco. Para conhecer mais sobre Eduardo Sabino e seu trabalho, acesse o site do autor.